domingo, 26 de agosto de 2018

Não são só R$ 05,00: Informe-se sobre a greve dos caminhoneiros!



     Iniciada em 21 de Maio de 2018, a paralisação da classe dos caminhoneiros gerou um prejuízo de cerca de 10 bilhões de reais à economia brasileira. Se tratando de um país de extensa matriz rodoviária, a greve afetou clara e diretamente a rotina de milhares de trabalhadores, os quais, em sua maioria, apoiaram a greve. Estes, por sua vez, alegaram pleitear o movimento por se tratar de uma “causa justa”. Afinal, qual é esta causa?
     Dentre as inúmeras reivindicações dos caminhoneiros, tais como a isenção de pedágios e a maior segurança nas estradas – através da manutenção de asfaltos, por exemplo – , a maior e mais polêmica das demandas foi a diminuição do preço do díesel, o qual beirava os R$ 05,00. Embora infira-se que a elevação exacerbada do preço do combustível seja inteiramente em prol da sustentação de um atual governo corrupto, o qual tem intensificado a crise ressurgida em 2008, o problema vai além das fronteiras brasileiras.
     Tendo em vista a necessidade da importação do petróleo no Brasil, pode-se tomar a instabilidade do mercado petrolífero, dentre outros motivos, como o pivô da oscilação do preço do combustível. Mas e quanto ao petróleo brasileiro?
     Sendo um dos maiores produtores de petróleo da América Latina, extraindo diariamente cerca de 2,6 milhões de barris de petróleo, o Brasil teria capacidade de atender à demanda nacional, o que supostamente estabilizaria o preço do combustível. No entanto, devido à alta densidade do petróleo brasileiro – o que dificulta o sistema de refino – e a estagnação do investimento em refinarias após o golpe em 2014, a importação deste commodity se faz necessária para suprir tal demanda. Além da instabilidade do mercado petrolífero externo em virtude de fatores como a queda da capacidade de investimento na PDVSA na Venezuela, a Revolução do Xisto nos EUA e o rompimento do acordo nuclear do Irã com os EUA, a desvalorização do real foi um fator contribuinte para a alta do preço do combustível.
     E quanto à inflação e sua relação com a instabilidade dos preços de produtos brasileiros (como o próprio combustível) e a atual oscilação exacerbada dos preços do petróleo após o golpe?
    Sobre a baixa inflação, deve-se grandemente ao elevado índice de desemprego e consequentemente ao número de desalentos, ou seja, queda do consumo, assim, ocasionando a baixa oscilação nos preços. Em relação ao petróleo, por ser um commodity, seu preço não varia em virtude da situação econômica do país no qual está sendo inserido, logo, assim como a baixa inflação não é sinônimo de progresso econômico, esta não está diretamente ligada ao preço do combustível. Segundo dados do IBGE, em Março de 2018 atingiu-se os níveis mais baixos de inflação em 24 anos de história do país – juntamente ao aumento do preço do combustível. No entanto, analisando os três últimos governos brasileiros (PT: 2003-2014), nota-se oscilações de 5,1 a 6,4 na inflação, acompanhadas do sucesso ao manter a estabilidade e a baixa do preço do combustível. Então, a que se deve a anterior estabilização dos preços, afinal?
     O sistema político e econômico do Partido dos Trabalhadores adotado naquele contexto, objetivava o controle da inflação e o não comprometimento da renda das classes mais baixas, uma vez que seus projetos são voltados para o ajuste da grande desigualdade social a qual assola o país desde os primórdios da construção da sociedade brasileira. Investiu-se, portanto, em refinarias e na Estatal, possibilitando a queda e a estabilização dos preços dos combustíveis. Em contrapartida, após o golpe de 2014, alegando haver graves dívidas no setor petrolífero brasileiro, o governo Michel Temer abre mão do investimento na extração do petróleo nacional, criando uma relação de dependência com mercados estrangeiros, o que resulta no acompanhamento de preços internacionais do petróleo.
     Além dos impasses os quais culminaram na greve, citados anteriormente, somam-se inúmeros fatores decorrentes da mudança de governo e da crise econômica agravada no país, como a questão do frete. Devido ao progresso econômico no Governo PT e suas respectivas políticas populistas – como a abertura de crédito para classes mais baixas e a respectiva formação de pequenos empresários – a inflação da frota rodoviária foi um fator contribuinte para a queda do preço do frete. Uma vez que baixo, o preço pago pelo transporte de produtos diversos resulta na queda do lucro desses transportadores, o que foi mais um dos variados motivos da paralisação. Foi solicitada, portanto, uma tabela de referência para valores do frete, com valor mínimo estabelecido pela Agência Nacional de Transportes Terrestres.
     Conclui-se, pois, que a “justa causa” defendida por expressiva parte da sociedade trata-se do direito à reivindicação desses trabalhadores por melhores condições de trabalho. A redução de 46 centavos/L no preço do díesel por 60 dias, a esperada redução dos pedágios para eixo suspenso em rodovias federais e estaduais, a garantia aos caminhoneiros autônomos de 30% dos fretes da Companhia Nacional de Abastecimento e o estabelecimento da tabela mínima de frete são conquistas das demandas da paralisação, a qual expôs a nível nacional a primordialidade da valorização dos serviços prestados por esses caminhoneiros no território brasileiro.

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