Iniciada em 21 de Maio de 2018, a paralisação da classe dos caminhoneiros gerou um prejuízo de cerca de 10 bilhões de reais à economia brasileira. Se tratando de um país de extensa matriz rodoviária, a greve afetou clara e diretamente a rotina de milhares de trabalhadores, os quais, em sua maioria, apoiaram a greve. Estes, por sua vez, alegaram pleitear o movimento por se tratar de uma “causa justa”. Afinal, qual é esta causa?
Dentre as inúmeras reivindicações dos caminhoneiros, tais
como a isenção de pedágios e a maior segurança nas estradas – através da
manutenção de asfaltos, por exemplo – , a maior e mais polêmica das demandas
foi a diminuição do preço do díesel, o qual beirava os R$ 05,00. Embora
infira-se que a elevação exacerbada do preço do combustível seja inteiramente
em prol da sustentação de um atual governo corrupto, o qual tem intensificado a
crise ressurgida em 2008, o problema vai além das fronteiras brasileiras.
Tendo em vista a necessidade da importação do petróleo no
Brasil, pode-se tomar a instabilidade do mercado petrolífero, dentre outros
motivos, como o pivô da oscilação do preço do combustível. Mas e quanto ao
petróleo brasileiro?
Sendo um dos maiores produtores de petróleo da América
Latina, extraindo diariamente cerca de 2,6 milhões de barris de petróleo, o
Brasil teria capacidade de atender à demanda nacional, o que supostamente
estabilizaria o preço do combustível. No entanto, devido à alta densidade do
petróleo brasileiro – o que dificulta o sistema de refino – e a estagnação do
investimento em refinarias após o golpe em 2014, a importação deste commodity
se faz necessária para suprir tal demanda. Além da instabilidade do mercado
petrolífero externo em virtude de fatores como a queda da capacidade de
investimento na PDVSA na Venezuela, a Revolução do Xisto nos EUA e o rompimento
do acordo nuclear do Irã com os EUA, a desvalorização do real foi um fator
contribuinte para a alta do preço do combustível.
E quanto à inflação e sua relação com a instabilidade dos
preços de produtos brasileiros (como o próprio combustível) e a atual oscilação
exacerbada dos preços do petróleo após o golpe?
Sobre a baixa inflação, deve-se grandemente ao elevado
índice de desemprego e consequentemente ao número de desalentos, ou seja, queda
do consumo, assim, ocasionando a baixa oscilação nos preços. Em relação ao
petróleo, por ser um commodity, seu preço não varia em virtude da situação
econômica do país no qual está sendo inserido, logo, assim como a baixa
inflação não é sinônimo de progresso econômico, esta não está diretamente
ligada ao preço do combustível. Segundo dados do IBGE, em Março de 2018
atingiu-se os níveis mais baixos de inflação em 24 anos de história do país –
juntamente ao aumento do preço do combustível. No entanto, analisando os três
últimos governos brasileiros (PT: 2003-2014), nota-se oscilações de 5,1 a 6,4
na inflação, acompanhadas do sucesso ao manter a estabilidade e a baixa do
preço do combustível. Então, a que se deve a anterior estabilização dos preços,
afinal?
O sistema político e econômico do Partido dos Trabalhadores
adotado naquele contexto, objetivava o controle da inflação e o não
comprometimento da renda das classes mais baixas, uma vez que seus projetos são
voltados para o ajuste da grande desigualdade social a qual assola o país desde
os primórdios da construção da sociedade brasileira. Investiu-se, portanto, em
refinarias e na Estatal, possibilitando a queda e a estabilização dos preços
dos combustíveis. Em contrapartida, após o golpe de 2014, alegando haver graves
dívidas no setor petrolífero brasileiro, o governo Michel Temer abre mão do
investimento na extração do petróleo nacional, criando uma relação de
dependência com mercados estrangeiros, o que resulta no acompanhamento de
preços internacionais do petróleo.
Além dos impasses os quais culminaram na greve, citados
anteriormente, somam-se inúmeros fatores decorrentes da mudança de governo e da
crise econômica agravada no país, como a questão do frete. Devido ao progresso
econômico no Governo PT e suas respectivas políticas populistas – como a
abertura de crédito para classes mais baixas e a respectiva formação de
pequenos empresários – a inflação da frota rodoviária foi um fator contribuinte
para a queda do preço do frete. Uma vez que baixo, o preço pago pelo transporte
de produtos diversos resulta na queda do lucro desses transportadores, o que
foi mais um dos variados motivos da paralisação. Foi solicitada, portanto, uma
tabela de referência para valores do frete, com valor mínimo estabelecido pela
Agência Nacional de Transportes Terrestres.
Conclui-se, pois, que a “justa causa” defendida por
expressiva parte da sociedade trata-se do direito à reivindicação desses trabalhadores
por melhores condições de trabalho. A redução de 46 centavos/L no preço do
díesel por 60 dias, a esperada redução dos pedágios para eixo suspenso em
rodovias federais e estaduais, a garantia aos caminhoneiros autônomos de 30%
dos fretes da Companhia Nacional de Abastecimento e o estabelecimento da tabela
mínima de frete são conquistas das demandas da paralisação, a qual expôs a nível
nacional a primordialidade da valorização dos serviços prestados por esses caminhoneiros
no território brasileiro.